quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

autocuidado

Este escrito é um lembrete a mim. Uma nota mental registrada externamente. Este escrito é sobre autocuidado.


Tome a coragem de cuidar de si mesma!

Olhe pra você com carinho, afeto, respeito e compreensão. Escute seu corpo, leia sua respiração, traduza seus passos. Você precisa de si.


Nessas de criança preta não ter infância - seja pela precocidade das responsas, pela ignorância da família, os clássicos desdobramentos do racismo - nosso direito à fantasia nos é tirado.
F a n t a s i a r.
Criar com imaginação.
Dar vida à coisas sem existência material.

Quando não se tem direito a fantasia, a crueza da realidade se apresenta com violenta sutileza. Puxa a cadeira e educa nosso olhar. Sedimenta o terreno que mantém nossos pés no chão, (nunca voar!) Eu cresci num solo barroso porém fui incapaz de florir meus passos, maquiar meus olhos ou levar a leveza num sorriso.
Eu cresci com a praticidade de lidar com as coisas como elas são. Prático e doloroso. Porém, a constância faz a gente se acostumar.
Eu cresci olhando nos olhos da concretude da dificuldade, sem firula. Quando eu digo que cresci, quero dizer que me tornei adulta assim: Realista. Imune às fantasias, aos devaneios, ao absurdo.

A consequência disso é que eu cresci com a mania de querer abraçar o mundo, mas sem a lembrança de que meus braços são curto. Cuido de todos. Quem cuida de mim? 


E o exercício de hoje com este escrito, é olhar para minha infância e tentar encontrar o que nela, faz eu me punir tanto? Eu não me dar o direito ao erro? Me cobrar um malabarismo emocional - como se fosse possível dar conta de tudo. O escrito de hoje é registro de fluxo mental, ora elaborado ora não.

Por que você não se acha merecedora de cuidado?
De um tempo seu, pra fazer o que quiser?
Por que o erro te apavora tanto?

O racismo pseudocientífico se dedicou por muito tempo, na construção de um imaginário que desumaniza corpos pretos; o iguala aos animais, a selvageria, a agressividade, a animalidade. Alguns de nós sabemos que o racismo científico é apenas uma manobra do colonialismo europeu para justificar seu sistema de dominação.  Mas MUITOS de nós, não sabemos disso. Neste sentido, acho importante dizer que nós descendemos de um povo que foi escravizado e somos filhos de uma nação colonizada.

Como esse colonialismo nos atravessa, e o quão desse colonialismo nós reproduzimos? Entre nós e com nós mesmas?




O bagulho é bem doido e nessas de achar que autocuidado é luxo, já me estrepei bastante. Porque não dá pra oferecer o que não se tem. Quem cuida do outro enquanto esta adoecido? Antes de ajudar as pessoas, é preciso que a gente se ajude. Estando bem, nós conseguimos a efetividade desse prover.

Entender que você pode errar; aceitar que te ajudem, não se cobrar tanto, estar segura de si, etc... é se ajudar. é direcionar o olhar cuidadoso pra si. É amor próprio, descoberta, desacerto, desafio, alívio, abertura de caminhos.

Autocuidado é ação política e direta. Antirracista. Decolonial. É resistência. É emancipação.

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Dito isso, gostaria de compartilhar uma vitória bonita e singela que tive hj.
Eu determinei o dia de quarta-feira, como o dia do autocuidado. 


botei água pra ferver e fui tomar banho. Separei minha fruta preferida, um incenso babado, uma música que me faz meditar (mesmo se for funk), fiz um chá e peguei um livro. Fechei meu quarto e mentalizei que este momento é meu, de mim, pra mim, por mim. é cura. é rito. é sagrado. 

Com o ambiente já energizado, vesti uma saia longa e preparei uma vaporização uterina com camomila. Meditei pelo tempo que aguentei. Tudo no meu tempo, quem manda no meu tempo às quartas, sou eu! Usei meus óleos essenciais, ascendi minha vela aromatizada de citronela pra modi os pernilongo rs
Escolhi vaporizar meu útero, num movimento de resgate, cura ancestral, e reconexão com o feminino. (Oi, podemos sim e eu vou adorar problematizar isso tudo, mas seguimos). Nosso útero carrega memórias ancestrais e feridas também. Então decidi cuidar de vários aspectos da minha existência. Fora que eu amo ervas e magias :) 



Aproveitei a água já com camomila, taquei sal grosso e fiz um escalda pés. A ideia é um spa mesmo. Seu, pra você!!! Enquanto o incenso acabava eu fui massageando meus pés. Escolhi minha cor de esmalte preferida e fui pintando as unhas. Tô viciada no novo álbum da Bia Doxum e indico essa trilha sonora para o dia de quarta. À T Ú N W A me deixa molinha. 

às quartas nós praticamos o autocuidado. E você?









sexta-feira, 23 de março de 2018

Telemarketing, Capitalismo e Educação

na m o r a l 
falar com essas máquinas ura eletrônica, não é diferente de falar com uma pessoa mecanizada, adestrada a ler script, que perde gradualmente a capacidade de ESCUTAR (que é diferente de ouvir). 


Experimente perguntar ao invés do valor do seu boleto, o nome do perfume que a pessoa tá usando, ou a cor da blusa, ou se ela já comeu hoje? 


Fugiu do script? a pessoa buga! Pique máquina. 

Eu quando preciso ligar ou recebo uma ligação de cobrança ou venda, já me vejo em risco de adoecer de tanto stress que passo, imagina quem trampa?



daí fui ler sobre:


a cada 10 operadores de telemarketing, 7 tem doença psíquica. 
83% tem menos de 30 anos. 
na maior empresa do ramo, a quantidade de atestados de afastamento é maior que a quantidade de funcionários!! Por causa da rotatividade. Eles advertem e suspendem até alegarem justa causa.
Tem relato de operador que opta por trabalhar de FRALDA GERIÁTRICA pra não perder bônus por ir no banheiro. 


a gente tá falando de uma juventude de kebrada, necessitada, 
sem escolha sobre a própria profissão, e trabalhar é o que mais fazemos durante nossa passagem na terra. 
muitas vezes com filho pra criar, pq o Brasil tem umas das maiores taxas de gravidez na adolescência da América do Sul. 
uma juventude que nem pode envelhecer pra adoecer, adoece física e emocionalmente, antes dos 30 anos de idade!!
por causa da selvageria do capital. 


A culpa não é sua que "não estudou", "não correu atrás",
nem castigo de deus por não ter aceitado jesus aquele dia na igreja, 
a culpa é do capitalismo!


E não é demais procurar entender o mundo que determina as regras sobre sua própria vida, ou é?
não é papo de "gte de faculdade", é sobre o existir...


A contax é a maior empresa do ramo, ela é contratada pelas empresas que terceirizam o atendimento pq é mais barato (Itaú, Oi, Vivo, Santande, etc...) Logo, tem MUITO funcionário. 
E quem prepara o funcionário pra contax? A escola! 

Eu amo a educação, pq veja, tem um cara que diz (teórico sobre educação, que eu não me apego à saber o nome, mas pegar a visão) que a educação é a reorganização e reconstrução da experiência, pra dar sentido à vida. Isso é poético pra mim kkkkk 


E qual o papel da instituição que diz estar educando (escola)? 
educar?
ou produzir trabalhadores passivos e consumidores obsessivos? 
Que vão se submeter à essas condições de trabalho?

Alguém precisa produzir a mão de obra ideal para garantir o pleno funcionamento do sistema capitalista. E a escola tal qual como se apresenta, tem essa função. 


É tudo estrategicamente trágico. E isso porque estamos falando de forma isolada numa visão micro de uma empresa, de um ramo do mercado de trabalho.

vaivenu

terça-feira, 6 de março de 2018

Trança tua tristeza


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A minha avó dizia-me que quando uma mulher se sentisse triste, o melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo; de modo que a dor ficasse presa no cabelo e não pudesse atingir o resto do corpo. Havia que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos olhos, porque iria fazer com que chorassem, também não era bom deixar entrar a tristeza nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer coisas que não eram verdadeiras, que também não se metesse nas mãos porque se pode deixar tostar demais o café ou queimar a massa. Porque a tristeza gosta do sabor amargo.



Quando te sintas triste menina- dizia a minha avó- entrança o cabelo, prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto quando o vento do norte sopre com força. O nosso cabelo é uma rede capaz de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e suave como a espuma do atole.

Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha neta, ainda que tenhas o coração despedaçado ou os ossos frios com alguma ausência. Não deixes que a tristeza entre em ti com o teu cabelo solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua traçou no teu corpo. Trança a tua tristeza, dizia. Trança sempre a tua tristeza.

E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos…" 

- Rui Sá 

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Não é conselho, é visão!


Bola mais um pô

Não relaxou? 
Aperta outro com a mesma força que seu coração ta apertado...
Da um trago! 
Tenta expeli as neurose em forma de fumaça e por serenidade na expressão. 

Não deu? 
Fuma mais! Tenta dar umas bongada pra ver se a melhora consta. 
Enquanto tem maconha ta suave. 

Fumou toda sua maconha? putz compra mais! 
Ta sem moeda? arruma, faz seu corre, se vira! 

Não conseguiu? 
Cola na banca, implora uns 2 com aquele argumento de que qdo vc tem, ce salva... Lembra de segurar até engasgar pra dar brisa, ou fome, ou te fazer sentir alguma coisa que não seja angústia ou saudade daquele passado branco...rs 


Aproveita que ta na larica pra comer. 
Aproveita que ta na brisa pra falar. 
Aproveita a vida nos instante que a brisa durar... 
pq se ela passar, vc tb também passa de relaxado pra agressivo, de sujeito bom pra malandrão. 
Pq se ela passar, fica dificil ate de pensar.
Se ela passar vc vai lembrar que parou de estudar, trabalhar, se relacionar... 
Então bola mais um pra evitar essas chapação...
Afinal
Sem maconha vc não troca idéia, não sente fome, se irrita fácil, vive de mau humor, mas ta ok
Maconha não vicia e nem causa dependência, existe marcha, uso medicinal, cerimonial, debate, documentario, cultura ras-tafari
também existe milhões de bico sujo viciado em álcool e cigarro, e ng fala nada pq são licitas. 
Então foda-se o uso que vc faz da "santa kaya" de onde ela vem ou o qto seu comportamento mudou. 
Qq coisa é só dizer que é moralismo que nunca falha, ou pra vc que é leigo usa a clássica: 
Ng tem nada a ver com a sua vida! Inclusive e principalmente as pessoas que te amam e sentem saudade de quem ta vivo.

acorda!
pq a corda tá no seu pescoço...
viver não é sinônimo de respirar!

terça-feira, 16 de maio de 2017

Você sabe o que é uma Medida Provisória?

O Temer tá fazendo todas suas cagadas políticas via MP, pq será ? 

Uma medida provisória é criada pelo presidente em caráter de urgência, para assuntos que ele SOZINHO decide que não podem esperar. 
tem até 60 dias pra ser votado pelos engravatado tudo, mas ela VALE COMO LEI, mesmo antes de ser votada. E o interessante é que depois que os engravatados tudo votam, quem sanciona essa lei é o próprio presidente! Um presidente sem legitimidade de voto, golpista, que tá sendo estrategicamente específico em todas suas ações.

Em 7 meses de governo, o Temer editou 41 MP's. 
Mais do que o governo Lula e Dilma somados. Mas A CULPA É DO PT, esse partido de direita, tá bom? 
O ódio cego ao PT, não tem nada a ver com posicionamento político. Ódio é reprodução, posicionamento é informação. 



Quais foram algumas MP's criada pelo golpista?

- MP que breco novas bolsas do Ciência sem Fronteiras;
- MP 766 permite parcelamento de dívidas fiscais;
- MP que propõe anistia aos produtores rurais, que não pagaram FunRural – Fundo de Apoio aos Trabalhadores Rurais; 
- MP da reforma do ensino médio; 
- MP das concessões, permite prorrogar contratos com grandes empreiteiras sem licitação nova, o argumento do porco é “privatizar tudo que for possível”.
- MP que tira a participação da sociedade na EBC - Empresa Brasileira de Comunicação e dá ao Temer direito de exonerar o Presidente dessa empresa nomeado no governo Dilma, tanto que ele fez isso!
- MP 739 onde todo mundo que há 2 anos recebe auxílio-doença, ou é aposentado por invalidez, terá que passar por uma nova consulta pra saber se merece mesmo a porra benefício. O texto dessa MP do porco, oferece bônus de 60$ pros médicos do INSS por perícia feita. S-e-s-s-e-n-t-a r-e-a-i-s. Eu fico pensando quem estudou medicina por 10 anos, pra receber um bônus dessa estirpe, nesse contexto e ainda nesse valor. 

Sem contar o congelamento de 20 anos nos gastos públicos com saúde e educação, dá tempo de nascer, crescer, adquirir consciência sobre os baguio... Ou não, nascer e crescer sem depender da saúde pública. Adquirir consciência sobre os baguio sem contar com a educação pública, né? vai venu.

e a porra da reforma da previdência que vai resolver o problema da economia. Vocês viram aquela propaganda patético que tá passando? Primeiro que eu não sei qual a necessidade de publicidade pra isso. Certamente é pra manobrar as massas, pq a consciência do povo daqui, é o medo dos homens de lá. 

Colocam um trabalhador, geralmente negro, pra convencer outros trabalhadores de que é melhor ~reformar~ agora, do que não aposentar quando chegar sua hora. Ameaçam: "Ou reforma ou o Brasil quebra". Mas essa propaganda não cita que esse governo (temerporco) perdoou, repito p-e-r-d-o-o-u, uma dívida de 25 BILHÕES do banco Itaú. Isso sim deveria quebrar alguma coisa. 
Não tem uma grama de informação válida, e não é nenhum pouco didático. Eu estudo sociologia e política e tive que abrir umas 13 abas pra entender um pouco do que estava sendo dito. Tem uma sonoplastia comovente, um idoso, negro e trabalhador falando coisas pra fazer outras pessoas nessas condições, sentirem medo de não se aposentar, e concordar com essa porra. 
Uma reforma que exige 49 anos de ~contribuição~, não é feita pra rico. Pq não se discute reformar os direitos trabalhistas de juízes, promotores, desembargadores, professores universitários? Eles querem resolver o problema tendo as doméstica, os pedreiro, os op. de teleatendimento, como alvo. 

sim amiguinhos, nos falta muita informação, pq motivos pra ter governante na mira de atirador, ele tá dando aos montes.
E soldados pra essa guerra não-declarada não falta... 

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Carolinas ou Marietas: Pretas!


Quarto mês do ano e eu no meu quarto lendo Quarto de Despejo. 

Carolina me emocionou a cada duas páginas, mas quando disse que as panelas no fogo de qualquer barraco também servem de adorno, que elas enfeitam um lar, ela poetizou a fome. E a última obrigação da poesia é ser bonitinha! Poesia é sentimento e quando a fome é fato, poesia é válvula de escape pro sufoco de existir. É detalhar dor como quem separa sílaba. Daí, toda vez que chego na armênia pela Pedro Vicente, visualizo a preta carregando água as 5 da manhã. Ou papelão. Ou ossos doados pra sopa. Quando paro no meu quarto pra escrever, penso nos meus recursos e no quão eles me privilegiam. E vejo Carolina em cada tia preta que limpa o banheiro da armênia ou vende amendoim. Vejo Carolina em mim, que peço carona pra chegar na faculdade pra ter o papel que me dá legitimidade de escrever isso, cientificamente. Isso o que? Pra que? Quem escreve não sabe responder. É a mesma coisa que comer sabendo que vai cagar. Escrevo pra me manter viva, me alimentar. Escrever te liberta de você, mas o sistema permanece intacto. Onde estão os pretos? Onde permanecem as pessoas pretas nesses 517 anos de Brasil? Ser poeta não te livra de viver tragédias, mas parece que as tragédias te obrigam a ser poeta.




Eu tenho muita coisa pra fazer, tá chovendo e tem louça na pia. Mas parece que a indisposição citada pela Carolina toda manhã, também é minha hoje. Indisposição. Causada pelo que? Consciência? Ignorância? Ingratidão? 

O fato é que eu vim fazer reclamações idênticas, com um “q” de ~agora sei mais sobre~. A reclamação repousa na convicção de que poderia ser melhor, mas não na certeza em como deveria ser. Me faltam convicções que eu deixei cair em algum vão entre o trem e a plataforma, porque eu nunca respeito a faixa amarela de segurança da vida. E nunca to em casa, sempre to indo pra algum lugar, pq é na mente que carrego meu lar. Gosto da noite de uma forma doentia, afinal não conheço poetas saudáveis. 
Inclusive enquanto escrevo aqui do alto da minha insignificância, alguma mulher da minha idade acaba de morrer na Síria, que foi atacada com dezenas de mísseis lançados pelos EUA. A Marvel fez homem de ferro com a trilha sonora de AC/DC, mas a guerra não produziu heróis, só genocídio. Então vou continuar a escrever pelas mulheres cheias de neurose assim como eu, que hoje morreram. Será que elas deixaram alguma carta? Será que elas escreviam também? Pra se imortalizar, seila? Sei que vou viver muito, mas talvez nenhum dia com a paz que gostaria. 

Os baguio é loco, vai venu as estatísticas no Brasil são produzidas pra serem ignoradas. Fico imaginando o trabalho dos pesquisadores do IBGE, dos pião da área que vão a campo, dos estagiário desenvolvendo tendinite. Não que seja grandiosamente lastimoso, mas é inútil. Aqui, um jovem negro é morto a cada 23 minutos. Não estamos em Guerra declarada pelo Estado, e isso da a impressão de que devemos agradecer a esse tropicalismo cínico. Mas o Brasil mata mais gente, do que os países que estão em guerra! 

E não é afirmação exagerada pra causar comoção. É estatística! Aqui, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, e recentemente uma mina foi estuprada por 33 caras. Ela tinha ou tem (sepa ta viva) 16 anos. então eu te pergunto:

O que é morrer? 


Estatísticas são produzidas por empresas corrompidas pelo Estado que tem a intenção de maquiar e ocultar as verdades. Imagina se não existisse concessão pública?  Eu tento duvidar de tudo, mas odeio ta de kebrada e entrar em xoc pq vi um homem qualquer, e isso acontece todo dia. Maldito feminismo que habita em mim muito antes d’eu descobrir que esse sentimento tinha nome... 

Eu to com raiva do mundo e com raiva da minha inutilidade perante ele. Ontem eu tava na rua da minha falecida vó paterna que teve 10 filhos, quando olhei o pretinho nos olhos e disse que não penso em ter filho. Mesmo sabendo que nosso filho seria lindo. Beleza não basta pq fora da casca, nóis é alvo. 

E a pele dele escura e lisa quase me faz mudar de ideia. 
Seu carinho desesperado quase me comoveu. 
E boca dele contornando meus lábios quase me fizeram esquecer: que eu não quero filho.

O mundo é um lixo, nunca foi propício às pessoas sensíveis: Que gostam de beijar as pálpebras enquanto o outro dorme. Que gostam de observar, contemplar o silêncio do sono e ouvir com o coração tudo que é dito ali, memorizar a simplicidade e eternizar a pessoa numa poesia que ela nunca vai ler. O mundo que eu vivo, criminaliza carência, naturaliza tragédia, ridiculariza emoção. O mundo que eu vivo, ignora estatísticas, pré-fabrica mortes e atrofia a ação. 

Eu vivo nesse mundo sim, mas não pertenço a ele. Damos graças por isso. 

quinta-feira, 30 de março de 2017

reclamações idênticas

Quanto mais você se afasta dos baguio mais eles se aproximam de você. É fácil ganhar ibope falando obviedades, basta mudar a forma. A crítica ácida e irônica sempre vai ser mais repugnante pro criticado e convincente pro alienado.  

Todos sabemos - seja por consciência ou vivência - que o mundo é uma merda epa. E mesmo pros que se esforçam pra alcançar uma plenitude na existência, ela é inalcançável, quem dirá para os que nem descobriram ainda outra maneira de significar a vida que não seja essa padronizada e pré destinada...

Pegar busao cheio por quantos anos seguidos? Mau humor matinal durante toda a juventude?  
É fácil criticar as instituições, 
o capitalismo é pique um câncer maligno que causa putrefação em tudo...  

Não é obvio? Até 'deus' ta preocupado com quanto você tem no banco.  
Vamos falar de liberdade? De proximidade do próprio coração? - e não me refiro ao órgão dentro do peito.  

Quanto mais vivo menos tenho a comemorar, a consciência de que só vai piorar incomoda muito mais que a pioraçao em si. A vida ta boa, ruim to eu. A vida não se abala, só eu que caio. A vida segue, eu que estaciono. Continuo adiando planos urgentes na mudança da rotina. Continuo caçando onde enfiar a culpa. Mas pelo menos as tragédias me rendem poesias, são úteis. 

Mas passa tempo, leva dor e lembrança, mágoa e se for preciso toda esperança. 
E passa tempo, traz aceitação, serenidade e paciência.

Não demore a vir, e só não esquece de me trazer a morte...!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

2000 e Dz7

é uma construção de associar as vivência, compreender as experiências, crescer. é libertador!

Quando você percebe ele já deu um jeito de construir um muro ao seu redor. 
De modo que sua própria identidade some. Ele muda seu nome pra mulher dele.
Onde quer que vá, será reconhecida dessa maneira. A sensação de posse sobre você,
deixa de ser só uma brisa dele, para ser sua realidade. O exterior legitima isso.
As pessoas que vocês dois conhecem, tratam você como propriedade do cara, 
ninguém sabe seu nome, nem nada sobre você, só sabem que vc é “mulher do mano”, 
e agem como se só isso bastasse. Você se torna alguém inacessível em todos os aspectos
por ser identificada e classificada como “mulher do mano”.
E quando seu relacionamento acaba? 
Você vai continuar sendo a “mulher do maluco” por um bom tempo.
E quando finalmente a galera reconhecer que você – enquanto mercadoria mulher - deixou de “pertencer à ele”, 
ou seja, terminou a porra do namoro, ainda assim, será reconhecida socialmente como “ex”. Carrega um estigma, uma marca pique aquelas de pele de boi. 
E até você voltar a existir na sociedade como VOCÊ MESMA, demoooooooora, é mó corre.

O macho nunca perde a identidade num relacionamento. Ele é alpha, imune às correntes do pertencimento. Imune aos julgamentos sociais. Ele transita pelo joguinho da afetividade com tranquilidade e liberdade. Come todas e é respeitado nas banca por isso, mete um namoro e é respeitado nas banca por isso. Fica solteiro e é respeitado nas banca por isso. Ele não perde o próprio nome pra ser reconhecido como “o homem da mina”. Chega ser engraçado de tão impossível. E isso não acontece por questões de personalidade, subjetividade, empoderamento, pq vc foi fraca, pq te falta consciência sobre oq é machismo. Nem toda feminista é obrigada a assumir a postura combativa, lacrativa, raxativa. 
Isso tudo acontece simplesmente porque você é mulher, e ele: homem.



É por isso que sou feliz por ser quem sou, meu nome é Larissa Cordeiro, eu faço meus baguio e pertenço a mim. E se for pra entrar num relacionamento pra ficar na sombra de homem, prefiro seguir sendo minha própria luz.

Alumeiaaaaaaaa fulô :)

Neguinha Metida

Eu quero falar sobre essa coisa de “nega metida”. 

Mas antes, eu quero abandonar a necessidade de justificar meus escritos. Eu ando com muita preguiça e quem acompanha meu blog até me cobra texto novo. A fita é como pegar fôlego pra falar, e soltar o ar desistindo pela consciência de que nada muda. Ninguém se importa. E suas neurose te pertencem. 
Talvez o sentimento de preguiça seja resultado da esperança pífia. Todos temos uma dose de esperança pra dar sentido ao que fazemos, mas eu a odeio. Por motivos óbvios.

Mas então, voltando ao título, é importante dizer: Eu não direciono meu texto aos que chamam as preta de metida, escrevo pras minhas. 

Ninguém espera muito de uma neguinha dita ‘feia’, pobre. 
Operadora de Telemarketing? Vendedora de loja de surf? na minha mão a passagem é 3? chegou delicia, chegou qualidade? São as profissões mais bem sucedidas.

Ninguém espera que uma preta reaja à um ataque, que pela naturalização e recorrência, foi mecanizado, quero dizer, passa batido. As pessoas estão acostumadas a falarem o que querem à uma faveladinha e não temerem reação. 
Elas contam com uma personalidade passiva. De empregada doméstica que chama até as cria da madame de patroa. Que anda olhando pro chão. Que não sabe receber elogio. Que chora escondida no banheiro pq queria o olho verde, nariz fino e cabelo loro-liso. 

O povo não tá preparado pra preta que bate de frente, que tem convicção e orgulho em ser quem é. Que ama seu nariz, seu cabelo duro, sua boca e bunda grande. Que olha no olho, fala no mesmo tom de voz, faz faculdade, discute política com propriedade. Eles se surpreendem! Pq ninguém espera muito de uma neguinha de favela. É tipo “não contavam com minha astúcia!” 

   observando o cinza da mentira que tenta descolorir meus sonhos, ainda bem que nóis é uma aquarela.

Isso acontece pq a sociedade e sua estrutura patriarcal e racista, cria lugares pré destinados à nós. 
O que isso quer dizer? Não esta no plano de quem tem poder e dinheiro, ver mulheres negras ou pobres tendo poder e dinheiro. Por isso 70% da população carcerária é preta. Por isso 93% das empregadas domésticas dos jardins são negras. Porque esses são os “lugares” que a sociedade nos destina.

Quando você, mina preta, dita “feia”, faveladinha, quebra essa lógica e começa a estar em outros lugares, rejeitando a migalha por ser convicta sobre sua própria grandeza, o mundo se incomoda. Os bico sujo se ataca. Talvez nem seus amigos saibam lidar com isso muito bem. E é compreensível. Não é aceitável, mas dá pra entender.

Quando eu colei na banca toda feliz pra contar que eu tinha entrado numa universidade pública,
pra fazer um curso que não era adm, logística ou marketing,
que o estado me pagaria pra eu estudar e não o contrário:
eu vi todo tipo de reação. De abraços à “vou ali mijar, to sem saco pra arrogância”.
E algumas coisas estão para além do recalque. Não duvido que exista gente recalcada sim! Mas o papo aqui é de uma Cientista Social, então vamo fala sério?

A incomodação repousa na ignorância. Em engolir sem questionamento a falácia do sistema que nos quer morrendo como tadinhas. Em achar que o Estado não tem obrigação de custear estudos de "vagabundas". Em não compreender a história do Brasil como solo pra fertilizar qualquer discussão social. Em não esperar muito de uma neguinha, dita “feia”, pé de barro. 

Daí você vai progredindo na sua caminhada - nada surreal, tudo dentro do que é merecido e na verdade com muita luta – e ressurgem das cinzas quentes da escravidão os inquisitores no cio:

- Você se acha!
- Neguinha metida!
- Fodona da favela!
- Arrogante!
- Prepotente
- Grossa
Bla bla bla bla bla

A fita é que quando você transita entre os mundos, troca ideia, desenrola, tá ligeira aos teste, se movimenta, fala o que pensa, se impõe, rejeita o lugar que a ti tentam impor, domina as gíria da sua quebrada feat. o palavriado difícil da faculdade, você se torna ironicamente, a fodona da favela!
o vulgo em si não me incomodou pq faz jus a quem sou, até pq sou monstra mesmo e não dá pra ser menos :)  mas, o caráter racista da intenção dessa afirmação, que tem que ser combatido. Com a sagacidade que não nos falta. Com toda emoção de exaltar as vivência. Com toda capacidade de escrever artigo científico!

As falas que ironizam, satirizam e reduzem quem somos e onde estamos, por causa de onde viemos, precisam ser combatidas porque – de novo – são racistas.
Ninguém diz “alá, branca metida”. Pq a branca pode até ser pobre, mas a ela é dado o direito de estar onde preta não deveria. Simplesmente por ser branca. E se caso ela for mesmo metida, ao exporem isso jamais sua cor vai vir acompanhando a crítica. Pq ser branca não é um defeito. 

Quantas vezes dentro da sala de aula, justamente por ser – não por escolha minha – a fodona da favela, eu não me senti constrangida em levantar a mão pra fazer uma pergunta, por não saber formular 1 (uma) UMA frase, sem minhas gíria?
Quantas vezes no banheiro do Shopping Morumbi, onde eu trabalhei durante um ano tendo que apresentar crachá todo dia na portaria por ser uma “neguinha metida”, eu me senti constrangida pq minhas roupas, minha estética, meu pé sujo de barro denunciavam pras patrícia-branca-lora-farmet, de onde eu vinha?

Quando a gente pega umas visão e entende que ser quem somos APESAR de viver o que vivemos e ter vindo de onde viemos, é uma benção, um milagre, uma glória! A gente passa a não mais permitir que nossa história nos envergonhe, pelo contrário, nos orgulha.

Num mundo que faz você se envergonhar das suas raízes e origens, se afirmar como Preta, Pobre, Favelada, é um ato de resistência!
Ser preta resistente as estruturas racistas da sociedade, que a todo tempo com violenta sutileza te direciona via revista, TV, discurso, propaganda, a ser o tudo, menos consciente do quão é poderosa, linda, de espírito forte, guerreira, é mó corre, mó desafio. E nessa caminhada nega, esteja ciente de que: A FÚRIA DE QUEM TE QUER NO CHÃO, SE BASEIA NO DESESPERO DE TE VER DE PÉ, CUMPRINDO SUA MISSÃO!

E (r)existir não é opção pra fi de pobre que cria os irmão, enquanto a mãe limpa privada de patrão pra garantir o pão. 
(r)existir não é estilo de vida, busca por curtida ou premiação de corrida. 

Resistir é coisa pra Nega Metida!

Salve as pretinha marrenta, metida, de nariz empinado, e bunda grande pra abastecer o recalque! Salve o poder da mulher negra!

kaya babyloca